segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O rizoma: metáfora transmidiática e labirintos poéticos



 O livro/rizoma como figura de colaboratividade
 O livro/rizoma como metáfora de identidades diluídas
 O livro/rizoma como desenho do transmidiático digital
 Raiz múltipla e fasciculada que se dobra e redobra
 Qualquer ponto do rizoma pode ser conectado com qualquer outro.

“Elos semióticos de qualquer natureza se conectam com ele com formas de codificação muito diversas pondo em jogo não só regimes de signos distintos, mas também estatutos de estados de coisas.”

“Em um rizoma não há pontos ou posições, como ocorre em um a estrutura.. em um rizoma só há linhas.”

"Um rizoma pode ser quebrado, interrompido em qualquer parte, porém sempre recomeça segundo esta ou aquela de suas linhas, e segundo outras."

"Um rizoma é uma anti-genealogia, uma memória curta ou anti-memória. O rizoma procede por variação, expansão, conquista, captura, injeção."










Hermes e Ártemis: Partindo das questões levantadas em sua obra Morte nos Olhos, o helenista francês inclui na discussão sobre o espaço e o movimento a deusa grega Ártemis. Ártemis, segundo Vernant, preside os espaços das fronteiras extremas, das margens ou zonas periféricas cada vez mais extensas, desde as fronteiras da cidade grega até as margens bárbaras e até as fronteiras do mundo, espaços completamente excêntricos. Ártemis é a divindade da fronteira da cidade grega, entre um espaço cultivado e um que não o é, um Estado e os Estados do lado, a cultura e a selvageria. O espaço profano, do fora da casa. O espaço profano do fora da cidade. Pode-se afirmar que Ártemis transita do sagrado ao profano e do profano ao sagrado. Igualmente pertinente é a figura do Deus Hermes, discutida em Vernant (1973). Hermes é um deus próximo que freqüenta este mundo. Mensageiro, viajante que vem de longe e já se apressa a partir, Hermes representa o movimento, a passagem, a mudança de estado, as transições, o contato entre elementos estranhos. Permanece junto à porta, é o ladrão, o espreitador noturno, aquele para quem não existe fronteira, semelhante à brisa, como o nevoeiro. Reside nas encruzilhadas, sobre os túmulos. Aquilo que não se pode prever nem reter. O inesperado.

O poeta fala no limiar do ser! Expressão máxima que abriga a tentativa de encontrar esse lugar instável, fugidio, esse tempo arcaico da memória – pois como afirma Vernant, “o poeta é o intérprete de Mnemosýne”, voz da memória (1990: 137) – onde deve transitar aquele que aborda a migração. É impossível abordá-la a partir de locais mais fixos e seguros. É implausível que capturemos seu dinamismo a partir do olhar de uma ciência imóvel, mesmo que a miremos de postos de observação avançados. Por certo que nos serviremos nesse texto de diversas contribuições dos estudos etnográficos, sociológicos e psicológicos, mas, por ser este um estudo que envolve a participação direta do investigador, não apenas como pesquisador, mas também como sujeito, caminharemos sempre no limiar do ser. Nas beiradas, nas bordas, nas fronteiras do ser – esse lugar hermesiano, descrito por Vernant como território viajante que vem de longe e que já se apressa a partir. Não há nele nada fixo, estável, permanente, circunscrito, nem fechado. Ele representa, no espaço e no mundo humano, o movimento, a passagem, a mudança de estado, as transições, os contatos entre elementos estranhos... Hermes, o Salteador, O-que-vagueia-diante-das-portas, o Espreitador noturno, aquele para quem não existe nem fechadura, nem cerca, nem fronteira: O Passa-Muros... ‘semelhante à brisas de outono, como um nevoeiro’... Reside também na entrada das cidades, nas fronteiras dos Estados, nas encruzilhadas... Em todos os lugares em que os homens, deixando sua moradia privada, reúnem-se... Deus errante, mestre dos caminhos, na terra e em direção a terra: ele guia, nesta vida, os viajantes... Faz passar da vida à morte, de um mundo à outro... Presente no meio dos homens, Hermes é, ao mesmo tempo, intangível... Não está nunca onde está, aparece repentinamente e desaparece... Ele usa o capacete de Hades que o torna invisível, as sandálias aladas, que anulam as distâncias, e uma varinha de mágico que transforma tudo o que toca. é também aquilo que não se pode prever nem reter, o fortuito, a boa ou má sorte, o encontro inesperado (1990:192-193).


 Amizade: ser sensível aos signos emitidos por alguém.
 A partir daí (de nascida a amizade, de ser enganchado nesse charme, nessa comunhão dos signos) pode-se passar horas em silêncio ou dizendo coisas completamente insignificantes.
 Amigo da sabedoria, não o sábio. O que se aproxima, flerta com ela, a roça, a acaricia. O que faz o amor com ela, mas não a possui. É uma posse casual, efêmera. Que pode se repetir, mas sempre se dá no perpétuo território da perda e do reencontro.
 Não se é o prometido da sabedoria, mas o pretendente da sabedoria. Há outros.
 Os gregos inventaram o fenômeno dos pretendentes.
 A amizade (filia) como condição do exercício do pensamento.
 A amizade como categoria do pensar.
 De certa forma a questão não é mais compreender. Estamos num certo limite da própria ignorância.
 Um livro é assim para todos, compreendemos uma parte outra não.
 Temos que nos posicionar no limite do próprio saber e da própria ignorância. É aí que estamos.
 É um arriscar-se a falar do que não se sabe.
 Mas, estou falando da fronteira que separa o saber do não-saber. É aí que temos de nos posicionar para ter algo a dizer. Uma espécie de gagueira do saber e do pensar.

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