O FILME TRANSMIDIÁTICO E AS NOVAS TECNOLOGIAS DA IMAGEM
(Prof. Dr. Mesac Roberto Silveira Júnior)
“No oceano agitado da comunicação digital... numerosas arcas, eternamente à deriva na superfície das águas, dançam entre si, trocam sinais, fecundam-se mutuamente.” (Pierre Lévy, Cibercultura)
“O cinema é a arte da manipulação” (Michael Haneke, Diretor de cinema austríaco)
“Estamos vivendo o primeiro capítulo das possíveis interações do cinema com as novas mídias digitais.” (André Parente, O virtual e o hipertextual)
“Cada máquina de visão, cada sistema de visualização, impõe à imagem produzida dimensões espaciais e temporais específicas. Cada dispositivo tecnológico veicula uma visão de mundo relativa à forma específica de modelagem do espaço e do tempo. Se cada sociedade tem seus tipos de máquinas, suas tecnologia e técnicas, é porque elas são o correlato de expressões sociais capazes de lhes fazer nascer e delas se servir como verdadeiros órgãos da realidade nascente. Cada tecnologia suscita questões relacionadas à sua consistência enunciativa específica que, em última instância, se articula com a produção cultural de uma sociedade em um determinado momento.” (André Parente, O virtual e o hipertextual)
O filme transmidiático, ou, manipulado transmidiaticamente pelas tecnologias digitais:
põe forte acento na montagem e na experimentação.
Encontra-se numa certa fronteira entre vídeoarte/publicidade/vídeo-clipe/documentário.
Dá-se a conhecer principalmente através de um evento.
Possui uma vocação subjetiva e intimista ao tratar assuntos do cotidiano.
Sua matéria prima é o sonoro, o musical, o oral e o literário, assim como a bricolagem com elementos cinematográficos.
No cinema transmidiático o axioma de cena é preterido, estamos na miscelânea de pequenas tomadas reunidas.
A linguagem do filme transmidiático é híbrida. Imagens e sons híbridos, auto-referentes, simulacros.
Na estética clássica predominava a transparência onde o real se assinala, aqui trabalha-se na opacidade objetal.
O filme transmidiático:
prioriza a estética da opacidade, que remetem ao ruído não ao sinal;
chama a atenção do espectador para a materialidade da imagem
remetem aos filmes de vanguarda;
remete a uma nova sensibilidade social ligada a uma estética do simulacro enquanto desaparição do real;
utiliza-se da imagem virtual onde o referente é fecundado pela informação;
é a imagem da imagem da imagem;
colocam em crise o sistema de representação;
lida com o simulacro onde não se pode mais distinguir a cópia do original
estabelece um jogo comunicacional, interativo e lúdico, onde se é criador e usuário simultaneamente;
mostra a imagem transmidiática como processo de temporalização e espacialização;
presencia a emergência da imaginação no mundo da razão que se liberta dos modelos disciplinares da verdade;
trabalha com a imagem-tempo kronos e kairós: encontrou-me e não me encontrou ao mesmo tempo – tudo depende do meu desejo de me deixar seduzir;
mostra a imagem que se libera da analogia, puro interstício, possível de se metamorfosear;
trabalha com imagens que liberam as forças criatdoras por engendrarem os processos de modelagens os mais diversos.
insere-se no ciberespaço: espaço de integração das mídias digitais;
caracteriza-se pela montagem não linear, que tem um papel estruturante e não apenas acessório, na qual os planos não se sucedem;
não utiliza as novas tecnologias da imagem apenas de forma acessória, mas contribui para a transformação do estado da arte do ponto de vista técnico e estético: a cultura digital.
O filme transmidiático:
se constrói por meio da interconexão fluida de mensagens entre si, que lhe conferem diferentes sentidos em uma renovação constante. Imagem, voz, som e texto são objetos de prática de sampling e de remixagem.
No filme transmidiático qualquer imagem, som e texto é potencialmente matéria prima de uma outra imagem, som e texto.
O filme transmidiático aumenta o potencial de inteligência coletiva dos grupos humanos.
O realizador transmidiático:
é um explorador e um construtor cooperativo de um universo de dados.
Trabalha com hiperdocumentos que remetem uns aos outros em rede.
Constrói sua própria ou coletiva rede semântica fluída e rizomática.
Trabalha num processo recursivo de criação e transformação de uma memória-fluxo.
Realiza a transformação cooperativa e contínua de uma reserva informacional.
A idéia de autor torna-se secundária ou mesmo inexistente.
O realizador transmidiático é um intérprete. Intérprete de um tema ou motivo pertencentes ao patrimônio de uma comunidade.
O realizador transmidiático é um organizador de uma criação coletiva, sem autor, um retransmissor inventivo.
Fórum Transmidiático: evento no qual o material, selecionado, recolhido e produzido é tratado por diferentes tecnologias midiáticas e pelos diversos realizadores simultaneamente, remotamente e em rede.
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